quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Ídolos (?) (parte II)

      Por tanto, essa lógica prevaleceu, sempre denuviando pelas mais diversas áreas humanas, e com alterações pragmáticas e específicas, onde um “deus natural” passou pela transformação do “deus humano”, o que lhe concebeu um poder maior, ironicamente por parecer mais com a identidade de seu criador, o homem. Aí está um dos pilares da idolatria: esta premissa de que, de alguma forma, nosso ídolo pode ter algo em que nos vejamos, e não queremos poder alcançar.
      Conforme se modificava a sociedade, criando novos dogmas e preceitos, a própria idolatria se adaptou. Passou de sincretismo filosófico-religioso para iconoclastia contemporâneas. Nessa nossa contemporaneidade, nossos ídolos mudaram de propósito, de função. Ainda possuímos na religião a razão central da idolatria, mas ela não é mais a única a se utilizar deste artifício, e nem é de agora. Na verdade, a impressão que fica é que a religião se utilizou deste aparente desconforto para reivindicar a “legalidade” de sua promoção, em detrimento da nova idolatria, baseada dos romanceamentos a cancioneiros bradados na idade média aos cultos pop recentes.
      Essa legitimidade para a crença religiosa foi infiltrada (e se infiltrou) na sociedade com o mesmo intento original (compreensão). Assim, fica-se livre a arte para trazer novos ídolos. Assim estes podem buscar nas raízes da demência humana o seu projeto de ideal – ou mesmo seu avesso, que chama atenção para o grotesco – que identifique sua cultura sociedade e razão.
      Mas essa idéia passa ao nosso tempo com um propósito muito menos retrospectivo. A idéia do ganho significativo de dinheiro e poder com a criação de ídolos é relativamente nova, e foi reforçada com outra criação da sociedade moderna: a adolescência. O adolescente, como o ideal da sociedade adulta, é moldado para a acepção de pontos adversos (virtudes e enganos) onde estes se vêem infringindo regras e, ao mesmo tempo, crescendo de maneira regulada e previsível. Isso gera maneiras – como um manual de instruções – fáceis de se compreender o crescer, por parte dos adolescentes. Este é, então uma estratégica maneira de se criar o novo adulto, fazendo-o – quando ainda não o é – idolatrar aquilo que criamos para esse mesmo fim. Assim, o adolescente não se espelha por completo na imagem do ídolo, não se vê ligado diretamente a ela, mas sim na função de externar uma pseudo-revolta contra a “sociedade adulta” em ídolos espalhafatosos e desbocados, mas este criado exatamente para isso.

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