quarta-feira, 4 de junho de 2014

Achismo e sofisma no poder

Due vecchi che mangiano - Francisco Goya
O relativismo[1] na antropologia é debatido com ênfase na concepção de que sempre se deve observar todos os pormenores das concepções que os grupos e sociedades estudados dão de importância a questões que nos são capciosas ou mesmo denegridores à nossas assimilações mais lógicas. Daí que vemos, em contrapartida, o antirrelativismo, que propõem-se, nestes estudos, a se explanar a cultura diferente sob a ótica do pesquisador, ou seja, este não iria analisar imparcial e friamente, mas explanar e qualificar determinada cultura (quando não julgá-la).
Mas de certo que teremos dificuldades em trabalhar um relativismo pujante quando não apenas lidamos com culturas diferentes da nossa, mas quando um indivíduo desta cultura se sobrepõe da ignorância de sua posição de status lá e quer impor seus aspectos distantes da real noção do que é a liberdade individual e respeito aos seus próprios costumes.
Assim encontramos polonês Janusz Korwin-Mikke, 72, que foi eleito recentemente para ocupar uma das cadeiras do parlamento europeu. Nesta entrevista dada ao repórter da Folha[2], Leandro Colon, a quantidade de absurdos e achismos vociferado por este senhor chega a embrulhar o estômago de alguém que tenha o mínimo de discernimento e sensibilidade para com outro ser humano.
Dentre os vários absurdos deste senhor (que agora é oficialmente representante do povo europeu) ele cita o porquê dele acreditar que as mulheres não devem votar, o porquê bater numa criança com chicote é um direto dos pais e por que pobres são pobres. A quantidade de sofismas cometida por este senhor beira à loucura. Transcrevo aqui a entrevista, e tirem suas conclusões:
L.C. - O sr. é xenófobo?
J.K.M. - Absolutamente, não. Sou um conservador libertário. Só que os imigrantes vêm para a Europa porque querem benefícios sociais, qualquer um quer isso. É esse o problema. Não podemos dar benefícios sociais, sou contra isso.

...

Num país como o Brasil, benefícios sociais são importantes.
Lógico que não. Todo mundo que dá dinheiro para desempregado deveria ter as mãos cortadas. É muito melhor colocar dinheiro para contratar, o capitalismo é quem cria empregos e não o governo. O governo taxa o capitalismo e não cria empregos.

Li uma declaração do sr. afirmando que hospitais, por exemplo, jamais devem ser públicos.
Sim, claro que não devem ser. É muito mais barato você não pagar impostos, mas pagar por médicos e enfermeiras.

E como a população mais pobre pagaria os médicos?
Eles são pobres porque precisam pagar impostos para isso, não têm dinheiro porque pagam médicos. Aí, pagam pelo médico e pelas burocracias do Estado. Veja na educação. Um garoto de família rica quase sempre tem uma alta educação. Mas os de famílias pobres não vão para as universidades, são inteligentes, têm habilidades e vão pagar impostos para os ricos estudarem.

Por que o senhor acha que mulheres não poderiam votar?
Uma vez a Margareth Thatcher me disse: ‘só fui eleita primeira-ministra do Reino Unido porque tive apoio dos homens’. As mulheres votam em homens. Mulheres não podem votar porque preferem não votar em mulheres. Acho que elas teriam mais chances de governar se não votassem. Na Polônia, eu fui candidato a presidente. Havia uma mulher entre os candidatos. Ela gastou muito mais do que eu. Eu consegui duas vezes mais votos do que ela. Se mulheres preferissem mulheres, ela teria mais.

No Brasil, a presidente é uma mulher…
Provavelmente, por causa dos votos e apoio dos homens, pode checar. Num time de mulheres de basquetebol, voleibol, quem é o treinador? Um homem. As mulheres não querem ser comandadas por mulheres.

O senhor tem certeza disso?
Sim, isso está provado. Não é por que estão preparadas ou não para votar, mas porque a maioria vota em homens. É mais apropriado então não votar porque teriam mais chance de serem eleitas.

O senhor disse mesmo que Hitler não sabia do Holocausto?
Sim, eu disse. Não há prova de que ele tenha tido conhecimento disso. É estranho dizer isso, mas é verdade. Não nego que o Holocausto existiu, mas não há prova de que ele soubesse.

Outra coisa que li é que o senhor defende castigo à base de chicotes a jovens infratores em vez de detenção.
Claro, claro! Se você coloca um jovem na prisão, ele perde um, dois anos de sua vida.

O sr. educou seus filhos dessa maneira?
Sim.

Com chicote?
Sim, às vezes.

Nós temos uma lei no Brasil chamada “lei da palmada”, contra educação com violência.
Isso é coisa de país fascista, que diz o que tenho que fazer com meus filhos. Nos países livres, os filhos não são do Estado. Tenho seis filhos. O Estado não tem direito de dizer como devo educá-los.

O que o sr. pretende fazer no Parlamento Europeu?
Parlamento significa falar, falar. Minha prioridade será falar e convencer as pessoas do que penso sobre a União Europeia. O Brasil desenvolveu porque não faz parte da UE, não foi ocupado por ela. Se você se inscreve na UE, você não desenvolve mais. Mais de 70% de nosso desenvolvimento é antes de fazer parte da UE. É um estado burocrático, que paralisa todo o desenvolvimento.

Como o senhor vê o desempenho de partidos anti-UE na eleição do Parlamento em outros países?
A população quer ser livre da ocupação da UE, dessa burocracia, dos capitães.
E como avalia o seu partido ter obtido quatro cadeiras?
Não achei bom, esperava sete, mas sofremos muitos ataques.

...

Tenho o costume de fazer explanações longas a respeito de assuntos como estes, mas visto do se discutir o óbvio por mais de uma vez, este senhor me remete a ser apenas isto, novamente: discutir o óbvio. Penso apenas no mal que este senhor deve ter feito a quem esteve em seu subjulgo.

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