Due vecchi che mangiano - Francisco Goya |
O
relativismo[1]
na antropologia é debatido com ênfase na concepção de que sempre se deve
observar todos os pormenores das concepções que os grupos e sociedades
estudados dão de importância a questões que nos são capciosas ou mesmo
denegridores à nossas assimilações mais lógicas. Daí que vemos, em
contrapartida, o antirrelativismo, que propõem-se, nestes estudos, a se explanar
a cultura diferente sob a ótica do pesquisador, ou seja, este não iria analisar
imparcial e friamente, mas explanar e qualificar determinada cultura (quando
não julgá-la).
Mas de
certo que teremos dificuldades em trabalhar um relativismo pujante quando não
apenas lidamos com culturas diferentes da nossa, mas quando um indivíduo desta
cultura se sobrepõe da ignorância de sua posição de status lá e quer impor seus aspectos distantes da real noção do que
é a liberdade individual e respeito aos seus próprios costumes.
Assim
encontramos polonês Janusz Korwin-Mikke, 72, que foi eleito recentemente para
ocupar uma das cadeiras do parlamento europeu. Nesta entrevista dada ao
repórter da Folha[2],
Leandro Colon, a quantidade de absurdos e achismos vociferado por este senhor
chega a embrulhar o estômago de alguém que tenha o mínimo de discernimento e
sensibilidade para com outro ser humano.
Dentre os
vários absurdos deste senhor (que agora é oficialmente representante do povo
europeu) ele cita o porquê dele acreditar que as mulheres não devem votar, o
porquê bater numa criança com chicote é um direto dos pais e por que pobres são
pobres. A quantidade de sofismas cometida por este senhor beira à loucura.
Transcrevo aqui a entrevista, e tirem suas conclusões:
L.C. - O sr. é xenófobo?
J.K.M. - Absolutamente, não. Sou um
conservador libertário. Só que os imigrantes vêm para a Europa porque querem
benefícios sociais, qualquer um quer isso. É esse o problema. Não podemos dar
benefícios sociais, sou contra isso.
...
Num país como o Brasil, benefícios sociais são importantes.
Lógico que não. Todo mundo que dá
dinheiro para desempregado deveria ter as mãos cortadas. É muito melhor colocar
dinheiro para contratar, o capitalismo é quem cria empregos e não o governo. O
governo taxa o capitalismo e não cria empregos.
Li uma declaração do sr. afirmando que hospitais, por exemplo, jamais
devem ser públicos.
Sim, claro que não devem ser. É
muito mais barato você não pagar impostos, mas pagar por médicos e enfermeiras.
E como a população mais pobre pagaria os médicos?
Eles são pobres porque precisam
pagar impostos para isso, não têm dinheiro porque pagam médicos. Aí, pagam pelo
médico e pelas burocracias do Estado. Veja na educação. Um garoto de família
rica quase sempre tem uma alta educação. Mas os de famílias pobres não vão para
as universidades, são inteligentes, têm habilidades e vão pagar impostos para
os ricos estudarem.
Por que o senhor acha que mulheres não poderiam votar?
Uma vez a Margareth Thatcher me
disse: ‘só fui eleita primeira-ministra do Reino Unido porque tive apoio dos
homens’. As mulheres votam em homens. Mulheres não podem votar porque preferem
não votar em mulheres. Acho que elas teriam mais chances de governar se não
votassem. Na Polônia, eu fui candidato a presidente. Havia uma mulher entre os
candidatos. Ela gastou muito mais do que eu. Eu consegui duas vezes mais votos
do que ela. Se mulheres preferissem mulheres, ela teria mais.
No Brasil, a presidente é uma mulher…
Provavelmente, por causa dos votos
e apoio dos homens, pode checar. Num time de mulheres de basquetebol, voleibol,
quem é o treinador? Um homem. As mulheres não querem ser comandadas por
mulheres.
O senhor tem certeza disso?
Sim, isso está provado. Não é por
que estão preparadas ou não para votar, mas porque a maioria vota em homens. É
mais apropriado então não votar porque teriam mais chance de serem eleitas.
O senhor disse mesmo que Hitler não sabia do Holocausto?
Sim, eu disse. Não há prova de que
ele tenha tido conhecimento disso. É estranho dizer isso, mas é verdade. Não
nego que o Holocausto existiu, mas não há prova de que ele soubesse.
Outra coisa que li é que o senhor defende castigo à base de chicotes a
jovens infratores em vez de detenção.
Claro, claro! Se você coloca um
jovem na prisão, ele perde um, dois anos de sua vida.
O sr. educou seus filhos dessa maneira?
Sim.
Com chicote?
Sim, às vezes.
Nós temos uma lei no Brasil chamada “lei da palmada”, contra educação com
violência.
Isso é coisa de país fascista, que
diz o que tenho que fazer com meus filhos. Nos países livres, os filhos não são
do Estado. Tenho seis filhos. O Estado não tem direito de dizer como devo
educá-los.
O que o sr. pretende fazer no Parlamento Europeu?
Parlamento significa falar, falar.
Minha prioridade será falar e convencer as pessoas do que penso sobre a União
Europeia. O Brasil desenvolveu porque não faz parte da UE, não foi ocupado por
ela. Se você se inscreve na UE, você não desenvolve mais. Mais de 70% de nosso
desenvolvimento é antes de fazer parte da UE. É um estado burocrático, que
paralisa todo o desenvolvimento.
Como o senhor vê o desempenho de partidos anti-UE na eleição do
Parlamento em outros países?
A população quer ser livre da
ocupação da UE, dessa burocracia, dos capitães.
E como avalia o seu partido ter obtido quatro cadeiras?
Não achei bom, esperava sete, mas
sofremos muitos ataques.
...
Tenho o
costume de fazer explanações longas a respeito de assuntos como estes, mas
visto do se discutir o óbvio por mais de uma vez, este senhor me remete a ser
apenas isto, novamente: discutir o óbvio. Penso apenas no mal que este senhor
deve ter feito a quem esteve em seu subjulgo.
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