domingo, 23 de junho de 2013

Mas você precisa que acreditar em algo...

É muito comum (principalmente nas redes sociais pela internet) um questionamento feito à ateus, agnósticos e racionalistas da seguinte fleuma: “E se, através de seu senso de empirismo você constatasse ou tivesse provas concretas da existência de Deus, qual seria sua reação?”

Bem, não preciso dizer que existe uma quantidade de “se’s” gigantesca nesta simples pergunta, mas começaria assim: “Em primeiro lugar, me diga de que ‘deus’ estamos falando. E não me refiro ao representante substantivo – Javé, Júpiter, Zeus, Odin, Tupã, Olódùmarè, Brâman, os Kami – mas sim ao conceito de divindade a ser posto em questão. É o deus cristão, tido por seus seguidores como onipotente, onipresente e oniciente, ‘encharcado de benevolência e compaixão’, onde se vê nítida a Teologia da Prosperidade (em vários conceitos quase que generalizadamente; para muitos cristãos, não todos) como modo de subsistência? Mas e se o deus em questão for mais parecido com o conceito oriental xintoísta, caracterizado pelo culto à natureza, aos ancestrais, e pelo seu politeísmo com forte ênfase na pureza espiritual, tendo como uma de suas práticas honrarem e celebrarem a existência de Kami, que pode ser definido como ‘espírito’, ‘essência’ ou ‘divindades’, e é associado com múltiplos formatos compreendidos por seus fieis, sendo em alguns casos apresentados em forma humana, em outros animística e em outros ainda é associado com forças mais abstratas (naturais) do mundo (montanhas, rios, relâmpago, vento, ondas, árvores, rochas).1 

E mais: este culto, onde ao contrário dos deuses de algumas outras religiões, os Kami não são onipotentes ou oniscientes, possuindo poderes limitados e nem todos são bondosos.1 
Continuando a pergunta em cima da pergunta inicial, ainda seria o muito cultuado pai por vezes repressor, mas constituído da mais pura e inquestionável inteligência e sabedoria, sendo um (ou 'o') grande patriarca, como seria visto por vários islâmicos, judeus e outros cristãos?2

Acredito que com isso se deixa claro que, da maneira como a questionador impõe sua pergunta, ele não procuraria refletir sobre as nuances de seu ponto de vista, o que abriria espaço para uma pergunta retórica e sem nenhum propósito, a não ser o óbvio – 'pense como eu, e sentirá o que sinto!' Uma simplista colocação de sofisma, não mais do que isto.


Mas e se usássemos a mesma relação questionador-questionado com um princípio diferente?  Faria eu a pergunta a um religioso: “E se, sob sua própria ótica do entorno, tivesse – não a refutação da existência de seu deus, ou de quaisquer divindades – mas a comprovação da mesma. Qual seria sua reação?” E poderíamos piorar a questão, ampliando o questionamento com “E se, ainda por cima, você descobrisse que não apenas a existência da vida, mas a existência do tudo fosse ‘apenas’3 uma deformidade do equilíbrio da não existência?”4


É de certo a dificuldade de se compreender a questão, principalmente quando não se propõe a visionar todo o real contexto do que se expõe. Mas é compreensível já que, como havia dito antes – neste blog mesmo – o maior interesse do ser humano, de maneira geral, não é compreender o todo dentro de um algo, mas um algo dentro de si, e isso desde que não lhe remeta muito esforço.


3 Acho importante deixar duas coisas claras aqui: A definição de 'apenas' é jocosa, não significando que algo relativamente assim proposto seria considerado como “apenas”; todo este conceito foi extrapolado ao meu bel prazer, para se aumentar a dúvida na questão proferida. O link não expressa o que eu postei exatamente.

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