segunda-feira, 27 de maio de 2013

Um grupo social ou uma sociedade grupal

A ronda noturna - Rembrandt
    Muitas coisas são – e sempre serão – consideradas como 'bases da/em nossa sociedade'. Mas até onde isso pode ser ampliado e compreendido?
     Utilizando conceitos abrangentes às varias estirpes diferenciadas do contexto humano (ou seja, sem tomarmos por conceito pragmático) as declarações das bases sociais seriam inúmeras, como a família, a religião, os costumes (paradoxal este aqui, não? É como se dissesse ‘quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?), comunicação, dogmas, deus (es) e afins. Mas, num simples exercício de reflexão não apenas filosófico, mas humanista e direto, observamos que, todos estes conceitos aqui colocados – e vários outros não ignorados, mas muito comuns também – criam uma sociedade latente e específica, quase que “sob encomenda” para rever e preencher o conceito que se faz do que é o ideal para uma sociedade. Mas por que disto?
       Dentre os animais, varias espécies criaram um contexto próprio (através de uma evolução específica) em que ‘um grupo’ não lhes é necessário para prouver suas mais variadas necessidades. Não é/foi o nosso caso. Nossa evolução se deu de maneira diferenciada, onde esta necessidade é vigente, possivelmente para nossas deferências básicas, como alimentação, proteção contra predadores e intempéries, procriação.
       O ser humano percebeu que uma convivência grupal o tornaria mais forte para diferenciados aspectos dos acima citados, e isso o obrigou a incentivar a manutenção do grupo – muitas vezes a qualquer custo – em detrimento do indivíduo. A superposição de um grupo sobre outro provém da simples ideia da disputa por melhores alimentos, terreno (que implicaria em alimento, mesmo!) e fêmeas para a procriação. Com o advento da – ainda parca e restritíssima – sapiência humana, o conceito grupo não poderia desaparecer, pois isso possivelmente os tornara ‘ociosos’ a ponto de ser um bom ‘auxiliar’ nesse desenvolvimento. Sendo assim, a compreensão do entorno se fazia necessária, e compreender a razão real do grupo existir, mesmo que limitada à falta de compreensão total de si mesmos, tornava-se cada vez mais importante a medida que simples questionamentos surgissem.
       A sociedade, portanto, foi ‘criada’ a partir das necessidades de manutenção da vida e espécie inerentes a qualquer vida. E como tal não poderia, dentro de sua própria evolução, deixar de permear e grafitar referencias que os indivíduos carregariam para si como compreensão do redor (se moro nas montanhas, ou a beira mar, ou mesmo no deserto, o quão isso é importante a se colocar no meu grupo – sociedade – e que tipo de justificativas serão feitas para este ser concêntrico?) e, não tardaria portanto, a se divinalizartodo este círculo vicioso.

Grupinhos moderninhos

       Mas, e hoje? Como justificam suas tórridas assinaturas, sejam positivam ou não? Da mesma maneira que antes. Ainda trazemos para nós, numa espécie de “genética social”, algo que tornaria “importante e justificável” nossas ações em deferência ao grupo em que estamos inseridos. O conceito do indivíduo como ente observável e considerável é relativamente novo, datando de no máximo três séculos – lógico que este sempre existiu, mas era como já dito aqui, pouco relativo à ideia de grupo – e isso, com o passar do tempo, tem sido cada vez mais importante para a formação de um número mais variado ainda de ‘grupos sociais’. Ou seja: ironicamente, quanto maior a conscientização das necessidades do indivíduo (do ‘eu’), maior o conceito de grupo (que relativamente concebe o indivíduo) e a quantidade de grupos!
     A relativização do indivíduo não ajudou como poderia parecer, a se “libertar” de um dogma que fornecesse alento às necessidade que, num contexto de mundo globalizado 2, seria desnecessário. Não. Essa pretensão de um grande grupo unificado e concêntrico não só é falha em sua formação inicial como não condiz com a necessidade regionalizada do indivíduo, e a mesma é respeitado por um contexto grupal geralmente menor. Assim, as sociedades menores e específicas não só se tornam fortes dentre de si mesmas, mas acabam por possuir “armas” para lidar com ideais lúgubres à suas posturas, o que impede – sempre impedirá – um crescimento maior do que um contexto regionalizado.


Não fui eu!

     Outro importante fator que ocasiona da necessidade de se manter em grupos está na equivalência dos prós e contras inseridos nestes, o que nos leva quase sempre a aceitar as imposições do sistema grupal como “verdade regenerativa”. Assim, ver-se no comando ou não de suas claras limitações de vivência condiz apenas em como o grupo em que nos inserimos aceita o mesmo conceito. Por exemplo: se em nosso contexto imaginamos estarmos protegidos – e por consequência danados – por entidades divinescas, pouco ou nada do que se for passado distinto disso será assimilado, pois separar-se dessa oração é separar-se do grupo, o que implicaria – claro que não de maneira específica, mas arbitrária e eloquente – perder-se nas vicissitudes que nos ‘desabrigaria de sua proteção’.
     Outro exemplo vê-se no que se acostumou a ver como antagonismo a esta ideia acima, mas não o é, de fato. Quando se diz que temos total controle sobre ações e influências que uma sociedade poderia tentar nos atribuir, quando se diz ser totalmente responsável por aceitações ou não de dogmas e compreensões do houve ou por vir, não está correto. Uma quantidade absurdamente grande de ocorrências fazem de atitudes, em muitos casos, desnecessárias de associação com atos e, como ação real, ficam apenas as consequências em atitudes ou que temos, ou que nos são provocadas. O conceito deste grupos (que não discutirei aqui, merendo uma reflexão mais profunda, de maneira específica) foge à compreensão do entorno e da própria existência, ignorando o que há em ambos e por ambos.
     Por tanto, fugir de grupos ao qual nos encontramos significa, até hoje, indispor de dogmas de proteção ocorrências reais com armas imaginarias.

O que queremos?

     No limiar de evolução tangível de níveis complexos na qual se tornou a própria vivência humana, poderíamos – e talvez devêssemos – contemplar uma não-sociedade. Talvez uma individualização onde a própria necessidade em si seja latente ao organismo e compreendido como tal, sem dogmas e contextualizações (fantasias e contos-de-fadas, se preferirem) para nossa existência “ter sentido”. Ou seja, não haveria a necessidade de se buscar um sentido, já que o conhecimento forneceria toda a razão necessária à psique humana. E citando conhecimento, cita-se todo ele, mesmo aquele que poderia ser ignorado, mas que com intenção clara de percepção, poder-se-ia transportá-lo – de maneira clara e coesa – em conhecimento puro, para compreensão do ser humano em si. Mas, com isso, faço minhas as palavras de Friedrich Nietzsche (com uma pitada de orgulho próprio):


“O filósofo é o homem de amanhã, aquele que recusa o ideal do dia, aquele que cultiva a utopia.”



1 A ideia da neologia me veio satisfazer um conceito simplista: tornar algo divino é marginalizar o potencial e inteligência humana.

2 Um mundo globalizado não tem a intenção de juntar ninguém, a não ser que o mesmo obedeça aos seus próprios padrões, o que não fugiria ao grupo, em si.


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