sexta-feira, 2 de agosto de 2013

E qual a moral?

               O programa "Na Moral"1 da Rede Globo, apresentado por Pedro Bial e que se passou no dia de ontem (01/8/2013) me remeteu a alguns raciocínios que tentarei passar aqui.
               Independentemente de quem foi 'melhor' ou 'pior', a ideia do debate é e sempre será válida para que as exposições de ideias não fiquem restritas em um pequeno grupo de ouvintes/debatedores, e que possam ser esclarecidas (ou ao menos vislumbradas) pelos que desconhecem de determinados paradigmas. O próprio preconceito, tão negativamente manifestado por todo aquele que se diz cidadão, passa a ser rebatido e desestruturado com o início destes.
                 Especificamente o programa de ontem deve ser visto por um prisma muito analítico. É importante entender que um meio de comunicação de massa e de tamanha representatividade como este canal não deixaria de levar em conta o vislumbre de se ter convidados que invoquem tantos comentários, dissabores e venerações de quantidade tão grande de pessoas. E não cito aqui apenas o pastar Silas Malafaia, mas também representantes de grupos que são constantemente 'tachados', sem que se haja uma orientação específica de sua argumentação.
                Dito isto, quero relevar os aspectos do episódio de ontem, em si. Como ateu, não posso me ver representado2 por uma pessoa que, mesmo que possua uma formação filosófica apurada, uma conceituação abrangente e humanista e racionalização como temática de existência num aperfeiçoamento contínuo que envolva moral e conhecimento não conseguir expor suas ideias de maneira minimamente convincente - ou mesmo expô-las! - para que nossa conceituação ficasse clara para quem assistisse. Daniel Sottomaior demonstrou possuir um (bom) conhecimento, minimamente exigido de alguém que se propõe a dicotomizar os aspectos religiosos e de um estado laicista, mas mostrou despreparo para não apenas demostrar a importância da racionalização do meio ateu, mas também de refutar sofismas empregados, especificamente o levantamento do “estado ateu”, que por consignação ignora o fato destes serem sistemas políticos que visavam não o ateísmo, mas o expurgo da religiosidade em suas constituições. Mas não vou me enveredar para este lado agora.
                 Outro ponto a ser comentado é a apresentação do referido pastor. Mais uma vez ele quis demonstrar sapiência utilizando-se de metodologias populares e protuberância na voz e na (vazia) argumentação. Como – desde seu programa solo até suas entrevistas para o ‘Canal Livre’, da Band, e o ‘De frente com Gabi’, no SBT – essa tem sido a pratica vigente no seu comportamento, é natural que estejamos acostumados aos descabimentos da vociferação deste, bem como os erros nítidos de suas colocações (chamar dizer que na lei que criminalizaria a homofobia, seriam permitidos vandalismos em recintos religiosos – como dito no programa do SBT – é apenas mais um deles) passam despercebidos por pessoas que não se importam em pesquisar, obter informações e discernir sobre elas. Pessoas estas que se acomodam com um as falácias de um ‘personagem falastrão’, deixando nítido durante vários momentos seu anseio desesperado e pedante por aplausos.
               Mais um ponto a ser vislumbrado: a percepção de que possuímos um ministro judiciário crente da existência de um mito. Sua fé própria e pessoal não é um problema no âmbito jurídico, mas admitir a existência de símbolos religiosos em repartições públicas de modo a qualifica-las de um “símbolo da injustiça que é possível acontecer, já que aconteceu com Ele” é preocupante. Não há, em nenhum dado historicamente relevante e compreensivo que reforce ou mesmo indique a existência do ‘ídolo’ cristão intitulado ‘messias’. E um magistrado escantear a epistemologia em prol de seus dogmas para uma ação que deveria (e é) secular. Repito: quer achar a simbologia entorno do mito Jesus algo tocante a ponto de nortear-lhe sua pessoalidade, não há problema, mas referendar este aspecto para que todos possam (ou tenham) que convir desta visão pessoal é errado.
          A se ressaltar positivamente, é interessante os posicionamentos e o direcionamento da discussão pelo babalorixá Ivanir do Santos que, principalmente na segunda parte do programa, abordou de fato a essência do estado laico e utilizou de leis e ocorridos – alguns deles próprios – para explicitar suas posições. O convite ao pastor – feito creio eu de maneira provocativa, mas não invalidado por isto – foi o justaponto que fica claro para quem conhece a fundo a andar de um culto evangélico: a premissa irracional, irascível e preconceituosa do que é pregado, ampliado e trespassado nestes rituais. E é aí que o pastor se perde, pois não justifica sua implícita recusa com uma colocação ‘politicamente correta’ e abalroada de senso comum, como é seu forte. Essa preparação do pai-de-santo foi metódica, mesmo que pensemos que ele não a usaria nos debates diários e mesmo entre seus seguidores (o que duvido, pois como ele mesmo colocou esta é uma gama religiosa extremamente escorraçada pelos clichês e desinformações preponderantes), é fato que ele demonstrou melhor preparo para o debate, de maneira incisiva e pertinente ao tema.
           Quanto ao padre, bem, ele estava lá? (desculpem a frase jocosa). Vi alguns (poucos) católicos questionando o silêncio do sacerdote ao ser confrontado com a ideia de que “os evangélicos eram os únicos que possuíam escolas clericais, de fato”, como posto pelo pastor. Bem, não vou – assim como outro tema acima dito – me enveredar por este caminho.
            O que ficou claro, no fim das contas, é que o debate está aberto. Não apenas para a laicidade do estado, mas para todo tema que aprofunde o comportamento do ser humano e suas implicações para a sociedade, dentro do aspecto religioso (O que este influencia? É um meio de influenciar? É destrutivo? Se sim, até que ponto? Se não, qual a razão dos resultados negativamente visíveis?) que deve ser discernido nas pessoas em prol não apenas desse ou aquele indivíduo; este ou aquele grupo, mas de toda a humanidade. Perecendo sob às hóstias da hipocrisia, o ser humano necessita se conhecer mais do que qualquer outra coisa.



2 Friso aqui que por 'representado', digo a conceituação de uma ideologia. Ver-se representado é uma ideia complicada uma vez que, por senso comum, estabelece-se todo o conjunto de pensamentos e ações do interlocutor para aquele fim. Alguém com muita compreensão generalista jamais se verá 'representado' desta maneira.

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