quarta-feira, 14 de agosto de 2013

O bem e o mal

L'innocence - Bouguereau
         Um simples desafio: tente encontrar qualquer referencia a respeito do que é bem ou mal sem que o mesmo seja infectado pelo sensacionalismo que permeie uma sociedade, de maneira geral. O que é o bem? Qual sua conotação implícita à nossa existência/sobrevivência? E talvez, a mais importante: é nato? Nascemos bons (ou não) ou desenvolvemos? Ou ambos?

          ‘Embora todas as linguagens possuam uma palavra expressando bem no sentido de "ter a qualidade certa ou desejável" e mal no sentido de "indesejável", a noção de "bem e mal" num sentido moral e/ou religioso absoluto não é antigo, e surge das noções de purificação ritual e impureza.’1  Essa conceituação, desde que o ser humano se viu necessitado de manipular seu redor e ‘a si mesmo’ (como ente de um grupo, não como indivíduo), é preponderante para se “escolher” os melhores caminhos a serem trilhados pelos membros do grupo. Estar ligado diretamente ao ideário de um grupo significa ter comida, abrigo, procriação e defesa em níveis superiores a se tentar o mesmo apenas por si2. E esta pureza esta ligada diretamente ao contexto destes itens de manutenção ente/sociedade. Não obstante, tudo que antagonize estes aspectos referencia-se ao conceito de mal, e isso poderia significar não desfrutar de importantes alicerces de manutenção da própria existência.
          Então, com estes preceitos em mente, conseguimos perceber que o bem, mesmo possuindo uma vertente quase que inabduzida durante toda a existência da consciência humana, possuiu – graças a aspectos difundidamente religiosos e, mais tarde axiologicamente3 explorados pela filosofia pré-socrática – grande influencia na ocorrência social de padronização de comportamento, e um importante agente organizacional. Como emergir comprometimento em indivíduos (apesar de não me parecer algo exatamente complicado, uma vez que a consciência de existir não nos remete automaticamente à consciência de se questionar esta existência) quando se não se estimula o maniqueísmo?
          Desde a pronunciação do ser, ainda nos primeiros estágios de vivência, este tem por necessidade a manutenção de sua composição biológica, o que implica – como interpretação do ambiente pela mente – em manter todas as necessidades que este organismo mostrar-se necessitado, falamos aqui de água, ar, comida, tato e afins. Definitivamente tudo que implique na facilidade4 associa-se diretamente às necessidades suplantadas de maneira satisfatória, o que o leva a ampliar sua atuação e auxiliar, pela experiência direta, não apenas sua intenção de manutenção, mas também de superelevação, tornando-se um ciclo interminável de ‘conseguir-melhorar’. Esse contínuo processo chama a atenção do homem primitivo para um contexto ‘até então estranho a ele’: para manter-se no processo social que lhe permitisse a contínua sobrevivência (acima citada) ele dependia da apresentação do que chamaremos aqui de crédito. Este crédito permite que outros membros se ‘dispam’ de medos e fobias naturais para lhe conceder a aproximação. E assim, sem os preceitos “limitantes” do receio, a tendência é que os créditos se mantenham e, com o passar das atitudes, experiências e acumulo de percepção do ambiente, até mesmo se acumulem. Mas como acumular, e até mesmo adquirir estes créditos? Com atos que se associem as situações – de manutenção, já ditas aqui – para os outros membros. E em geral, esses atos devem lembrar (associar) atitudes de pouca ação física do indivíduo, ligação direta comportamental e idearia com o(as) outro(as) membros, pois isso deve indicar ao receptor vulnerabilidade do introdutor.
          Muito bem, com tudo isso, faça um exercício mental em evoluir este posicionamento até permear o imaginário humano para incrementar-se com as divindades por estes atribuídas (sempre, na história das religiões – principalmente as mais antigas – o(s) deus(es) envolvidos denotavam a beleza e pureza dos atos nobres para associar as coisas boas da natureza para este ser, mas também denotavam rancor e angustia, como forma de justificar as desventuras naturais) e você terá um complexo contexto de associação entre a dualidade bem e mal, e esta passa a ser, na evolução mitológica das explicações o ponto de apoio para a manutenção de sua existência.
          Após, portanto, e com sua anterior percepção, uma intrínseca dissecação do comportamento humano e seus aspectos através da filosofia – e seus sucessores – constata-se uma metodologia descritiva para sua averiguação e compreensão; uma vez que, pela complexidade do próprio comportamento, ramificação ideológica e interpretações tão diferenciadas em comunidades muitas vezes tão próximas historicamente (e fisicamente até), torna-se quase impossível padronizar todas as nuances do que vem a ser, exatamente, o bem e o mal.
       Há também o impositivismo da bondade, como uma “ditadura do bem”, em que a insuflar este, em detrimento ao seu adverso, torna-se normativa e ponto passivo para quaisquer ocorrências sociais. Mas o principal problema deste seja ‘qual a linha que factualmente separa os oponentes e até onde ela é proeminente? E para quem ela o é?
        Podemos assumir que partimos do principio imputado a nós por nossos antepassados: a bondade seria a abertura que damos para a aproximação de outro ser, mas talvez, dai a julgar a maldade como sendo simplesmente seu inverso, seria equivocado. Talvez fizesse mais sentido imaginar que a maldade, neste aspecto, é a sobreposição de um contexto individualista especificamente nocivo que programaria a atenção dos membros deste grupo e seria elevado ao patamar de se ‘abusar’ deste meio para um fim inegavelmente destrutivo, seja a nível exclusivo ou abrangente.


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