Cupid and Psuché - Jacques-Louis David |
Existem
discussões intermináveis (mas nem por isso de menos importância) quando se
tentam relativizar o machismo, mal endêmico em toda a sociedade humana. Essa
relativização ocorre por um erro de conscientização histórica, beirando às
raias do vitimismo por parte dos que reclamam e dizem que o machismo afeta
tanto homens como mulheres, em igual proporção.
Não, isto não é
verdade, isto não ocorre. As mulheres sempre serão muito mais vítimas desta
regulamentação misógina a qual vivemos e, infelizmente, aceitamos. A sociedade humana – com raríssimas exceções
– possui como norma a superlativação do gênero masculino no que tange todos e
cada aspecto do cotidiano. E isso acarreta em consequentemente a pústula de
regras que se seguem para sanar o ego masculino, que em essência é frágil: somo
heteronormativos, conceituamos erroneamente raças (termo este que não se faz
mais vigente[1])
para podermos deixar de lado quem possamos julgar diferentes, e este julgamento
remete ao medo de se enfrentar e disputar território (por território, na
humanidade de hoje, podemos conceber poder, influência, mulheres).
Vemos a
separação visceral pelos conceitos sexistas, onde até mesmo crianças são
ensinadas desde cedo que existem cores, modos, brincadeiras e companhias
específicas para cada sexo, impondo pedantemente à estas que separem-se e não
se descubram, não se compreendam e não se sintam parte de um todo mais
importante: a sociedade humana. Colocamos meninas em redomas herméticas de
sabedoria esdrúxula para que esta sirva de parideira, intuindo nelas a
necessidade de serem “moças direitas”, “para se casarem”, e que estas
compreendam a “natureza do homem” e aceitem comportamentos egoístas, dizendo
“Ah, mas é homem, e homem é assim mesmo”. O caráter tem a ver com a criação do
indivíduo, e não com seu gênero.
Mesmo em
situações em que a desigualdade deveria ser banida acabamos, pelo contrário,
vendo-a enraizada. Os homens acabam por sofrer do próprio veneno quando de
disputas ilegítimas. A norma – mesmo não sendo mais lei, hoje – é de que, por
exemplo, um pai terá mais dificuldade de regular sua visitação aos filhos
perante a justiça, esta dando mais ênfase ao fato de que a mãe teria um
“direito maternal” e preferência implicitada. Ou vários casos parecidos, onde
aos homens são imputadas nuances e comportamentos que os justificaria “machos”,
como se pare ser homem devesse-se agir da mesma maneira que lhes foi imposto e
que é o cerne deste texto.
Cada milímetro
quadrado do físico e das ideias que nos cercam são de cunho masculino. Mesmo as
concepções femininas passam por normas masculinas de comportamento, onde suas
definições ajudam a alicerçar esta estrutura machista em que vivemos. Sendo
assim, pode se imaginar que é mais do que natural que muitas mulheres tentem
quebrar estas normas, com situações que podem chocar a já muito frágil
estrutura masculinizada (esta fragilidade se dá por si mesma, por não ser uma
estrutura que contemple ambos os sexos, ela é frágil por si).
Este choque faz
bem a nós, pois podemos averiguar o quão ignóbeis criamos nossa sociedade para
marginalizarmos o conceito do feminino, o quão elas devem batalhar mais forte e
mais intensamente por direitos que lhes são inatos. Isto assusta a sociedade,
chegando ao cúmulo de alcunhas grotescas e sórdidas, como ‘feminazi’ (uma
pessoa que usa esta palavra além de ser ignorante no que tange as liberdades
individuais mostra total falta de conhecimento da história humana, e se o faz
pensadamente aje por mal-caratismo).
Todos sofremos
com estes aspectos, com esta regulamentação misógina, misantropa,
segregacionista e machista. Em maior ou menos escala, todos nós sofremos ou
sofreremos com estes conceitos imputados a nós. E o pior é que internalizamos
isto como forma de nos adequarmos a esta sociedade profundamente doente, seja
por nos ser intrínseco à própria altura de nossas vidas, seja por realmente
temermos olhares tortos. É isto que ela nos faz, nos torna o que não queremos
ser até que nos acostumemos a queiramos isto. E até quando?
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