quinta-feira, 22 de maio de 2014

O feminismo nos libertará

Cupid and Psuché - Jacques-Louis David
Existem discussões intermináveis (mas nem por isso de menos importância) quando se tentam relativizar o machismo, mal endêmico em toda a sociedade humana. Essa relativização ocorre por um erro de conscientização histórica, beirando às raias do vitimismo por parte dos que reclamam e dizem que o machismo afeta tanto homens como mulheres, em igual proporção.
Não, isto não é verdade, isto não ocorre. As mulheres sempre serão muito mais vítimas desta regulamentação misógina a qual vivemos e, infelizmente, aceitamos.  A sociedade humana – com raríssimas exceções – possui como norma a superlativação do gênero masculino no que tange todos e cada aspecto do cotidiano. E isso acarreta em consequentemente a pústula de regras que se seguem para sanar o ego masculino, que em essência é frágil: somo heteronormativos, conceituamos erroneamente raças (termo este que não se faz mais vigente[1]) para podermos deixar de lado quem possamos julgar diferentes, e este julgamento remete ao medo de se enfrentar e disputar território (por território, na humanidade de hoje, podemos conceber poder, influência, mulheres).
Vemos a separação visceral pelos conceitos sexistas, onde até mesmo crianças são ensinadas desde cedo que existem cores, modos, brincadeiras e companhias específicas para cada sexo, impondo pedantemente à estas que separem-se e não se descubram, não se compreendam e não se sintam parte de um todo mais importante: a sociedade humana. Colocamos meninas em redomas herméticas de sabedoria esdrúxula para que esta sirva de parideira, intuindo nelas a necessidade de serem “moças direitas”, “para se casarem”, e que estas compreendam a “natureza do homem” e aceitem comportamentos egoístas, dizendo “Ah, mas é homem, e homem é assim mesmo”. O caráter tem a ver com a criação do indivíduo, e não com seu gênero.
Mesmo em situações em que a desigualdade deveria ser banida acabamos, pelo contrário, vendo-a enraizada. Os homens acabam por sofrer do próprio veneno quando de disputas ilegítimas. A norma – mesmo não sendo mais lei, hoje – é de que, por exemplo, um pai terá mais dificuldade de regular sua visitação aos filhos perante a justiça, esta dando mais ênfase ao fato de que a mãe teria um “direito maternal” e preferência implicitada. Ou vários casos parecidos, onde aos homens são imputadas nuances e comportamentos que os justificaria “machos”, como se pare ser homem devesse-se agir da mesma maneira que lhes foi imposto e que é o cerne deste texto.
Cada milímetro quadrado do físico e das ideias que nos cercam são de cunho masculino. Mesmo as concepções femininas passam por normas masculinas de comportamento, onde suas definições ajudam a alicerçar esta estrutura machista em que vivemos. Sendo assim, pode se imaginar que é mais do que natural que muitas mulheres tentem quebrar estas normas, com situações que podem chocar a já muito frágil estrutura masculinizada (esta fragilidade se dá por si mesma, por não ser uma estrutura que contemple ambos os sexos, ela é frágil por si).
Este choque faz bem a nós, pois podemos averiguar o quão ignóbeis criamos nossa sociedade para marginalizarmos o conceito do feminino, o quão elas devem batalhar mais forte e mais intensamente por direitos que lhes são inatos. Isto assusta a sociedade, chegando ao cúmulo de alcunhas grotescas e sórdidas, como ‘feminazi’ (uma pessoa que usa esta palavra além de ser ignorante no que tange as liberdades individuais mostra total falta de conhecimento da história humana, e se o faz pensadamente aje por mal-caratismo).
Todos sofremos com estes aspectos, com esta regulamentação misógina, misantropa, segregacionista e machista. Em maior ou menos escala, todos nós sofremos ou sofreremos com estes conceitos imputados a nós. E o pior é que internalizamos isto como forma de nos adequarmos a esta sociedade profundamente doente, seja por nos ser intrínseco à própria altura de nossas vidas, seja por realmente temermos olhares tortos. É isto que ela nos faz, nos torna o que não queremos ser até que nos acostumemos a queiramos isto. E até quando?

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