sábado, 7 de junho de 2014

A origem da vida e Deus

A Criação, de Leonardo Da Vinci
Há, na comunidade científica, várias teorias para o início da vida na Terra, entre elas a panspermia cósmica[1], que se baseia na presença de microorganismos em asteróides e cometas flutuando no espaço que teriam caído no planeta e encontrado aqui condições ideais para se desenvolverem.
Existe uma outra teoria de panspermia (vou batizá-la de panspermia local) que diz que estes corpos celestes, mesmo sem conterem microorganismos, ao se chocarem com os oceanos teriam desencandeado o processo de formação das moléculas necessárias para a formação da vida.
Temos ainda a teoria da sopa primordial, que deduz que as tais moléculas teriam se originado desta sopa, onde substâncias se aglutinaram após sofrerem tempestades de descargas elétricas e erupções de gases vulcânicos e grandes variações de temperaturas.
Análises de camadas geológicas dão uma ideia de como seria a atmosfera primitiva da Terra e seus mares e oceanos e, a partir destas análises e conclusões, experimentos com bombardeamento de calor e eletricidade indicaram que os aminoácidos poderiam surgir nas condições descritas[2].
Assim também na teoria da panspermia local, quando seus defensores simularam o impacto de um meteorito numa mistura que imita o que deve ter sido o oceano primitivo, surgiram os aminoácidos.
Este é um resumo resumídissimo e superficial destas três teorias e quem se interessar pode encontrar tais informações em qualquer site sério de Biologia ou Ciências correlacionadas.
A questão aqui é a premissa: A vida originou-se de um processo químico a partir de elementos naturais e suas reações e interações entre si e com o meio ou foi criada do nada por vontade de Deus?
O que podemos dizer é que, seja o que for que tenha acontecido, é provável (no sentido de testável) que fenômenos químicos ocorreram na Terra desde a sua formação, e que estes continuaram transformando-se e ao ambiente de então e que, numa confluência de fatores, são fenômenos que podem gerar a vida e os organismos mais complexos sem que seja necessário um princípio inteligente fazendo um passe de mágica. Tudo o que a Ciência indica sobre a questão da origem da vida é baseado nesses fenômenos observáveis.
Para melhor apreciação desse texto, uma breve explanação do que significa teoria, no método científico: O que é o método científico? Trata-se de um processo de pesquisa que segue uma determinada sequência de etapas. São elas: OBSERVAÇÃO, PROBLEMATIZAÇÃO, FORMULAÇÃO DE HIPÓTESES,  EXPERIMENTAÇÃO E TEORIA. E o que é uma TEORIA CIENTÍFICA? Diferentemente do sentido de teoria no senso comum, que indica algo ainda não comprovado, na Ciência é assim: Uma hipótese confirmada nas experimentações passa a ser denominada de lei científica. A um conjunto de leis que explicam um determinado fenômeno (ou grupo deles) chamamos de teoria. As teorias científicas têm validade até que sejam incapazes de explicar determinados fatos ou fenômenos, ou até que algum descobrimento novo comprovado se oponha a elas. A partir de então, os cientistas começam a elaborar outra teoria que possa explicar esses novos descobrimentos.[3]
O que não se aplica à teoria do Criacionismo. A nenhuma das teorias de Criação de algum deus, de nenhuma religião. Não há, como querem alguns dos meus queridos comentaristas, nenhum teste, experimento ou sugestão de prova ou teoria científica que defenda que a vida tenha surgido na Terra do nada, sem interferência do meio e sem as substâncias necessárias ao suporte da vida.
Não existe hoje nenhum ramo da Ciência que defenda a Teoria Criacionista, pelo menos não que eu tenha encontrado nestes meus anos de pesquisa, e ficaria grata se alguém souber de algum estudo que possa me indicar, pois não descarto nada, desde que seja baseado em dados tangíveis e suportados por possibilidades físicas e químicas.
Não posso comparar pois as teorias científicas sobre a origem da vida na Terra e as teorias que lidam com o sobrenatural, já que não aceito a premissa de vida surgindo do nada, apenas por um ato de vontade, sem que os próprios elementos que compõem a vida sejam sequer utilizados.
Ainda mais quando esta teoria religiosa vem em um livro recheado de inverdades comprovadas sobre a constituição física do ser humano, a cura e a causa das doenças e algumas modificações súbitas no posicionamento e nos movimentos dos astros e outros fenômenos afins, que causariam catástrofes no planeta, mas que são descritos como se os elementos químicos e a constituição física do planeta e do Universo não fossem submetidos a leis e premissas conhecidas hoje; como se a gravidade não fosse um fato ou a constituição e o movimento das águas ou o comportamento animal não fossem regidos por princípios mais do que comprovados; em tudo isso, em todo esse conhecimento do mundo acumulado pela Ciência é que se baseia toda a parafernália de que desfrutamos hoje, desde os medicamentos à eletrônica e a informática.
Sei que os criacionistas querem travestir esta ideia de Criacionismo em Ciência, mas é claro que não conseguirão, a não ser que sejam capazes de reproduzir a vida a partir de um ato de vontade, seja invocando seu princípio criador ou simulando-o em um laboratório, que é o que os cientistas sérios fazem.
Tenho a mais cristalina certeza de que no dia em que tal teoria for minimamente indicada como possível a partir de qualquer experimento que recrie no mínimo um aminoácido por meio da oração, de um ato divino ou coisa que o valha, todos os cientistas reconhecerão esta possibilidade, embora quedem-se perplexos.
Mas enquanto a teoria do criacionismo for apenas baseada em fé, continuaremos com nossos testes e experiências baseadas nos fatos e elementos que nos cercam, aqui na Terra e no espaço observável e eles continuarão com sua fé.
Qualquer teoria que se pretenda científica deve partir de algumas possibilidades de explicações do mundo que nos cerca, que serão testadas e consideradas prováveis ou não, baseadas nos resultados destas experiências.
Quando uma teoria científica não se mantém de pé à luz da experiência, ou é suplantada por outra que explica melhor o funcionamento ou a ocorrência de algum fenômeno, os cientistas, de forma geral, tendem a abandonar as teorias antigas, reconhecer os erros de entendimento e compreender que a nova contempla melhor os casos estudados.
Coisa que as teorias baseadas na fé não são capazes de fazer.
Foi assim com a teoria dos micróbios, do funcionamento das vacinas, da alquimia, da astrologia, do heliocentrismo e do geocentrismo. Cada uma destas teorias foi refutada ou comprovada pelos fatos e experimentos ou constatações, mesmo quando não se tinha ainda a certeza de que seria assim.
Há medicamentos que agem contra determinadas doenças sem que os cientistas responsáveis saibam explicar por que isso acontece, mas acontece. Há substâncias que agem sobre os seres vivos sem que ninguém saiba explicar como.
Até os sonhos ainda não são de todo explicados, nem muitos outros fenômenos como o comportamento da areia ou das nuvens em determinadas situações, as variações climáticas, a influência dos seres humanos nestas variações e os ciclos das várias grandes extinções que, comprovadas pelos registros fósseis e geológicos ocorreram, de fato, mas que não se sabe bem como nem por que.
Isso não significa que a ciência que lida com tais fenômenos seja incompetente ou menos digna de crédito, apenas ainda não sabemos tudo sobre o mundo e seu funcionamento, mas estamos investigando e utilizando os conhecimentos que já possuímos.
Concluindo, há sim, cientistas que defendem o criacionismo na vida pessoal e profissional, mas não representam uma corrente científica nem submetem suas crenças ao rigor científico das publicações e análise pelos seus pares, ou seja: têm fé. Pode-se acreditar no que se quiser sobre a origem da vida na Terra, cada um é livre para escolher sua teoria, mas, por favor, não confundam crença com ciência, são coisas completamente diferentes.
Agora, se você duvida da Ciência em si, o assunto se encerra num aperto de mãos cordial e passemos a falar sobre outras coisas.


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