A Criação, de Leonardo Da Vinci |
Há, na
comunidade científica, várias teorias para o início da vida na Terra, entre
elas a panspermia cósmica[1],
que se baseia na presença de microorganismos em asteróides e cometas flutuando
no espaço que teriam caído no planeta e encontrado aqui condições ideais para
se desenvolverem.
Existe uma
outra teoria de panspermia (vou batizá-la de panspermia local) que diz que
estes corpos celestes, mesmo sem conterem microorganismos, ao se chocarem com
os oceanos teriam desencandeado o processo de formação das moléculas
necessárias para a formação da vida.
Temos ainda a
teoria da sopa primordial, que deduz que as tais moléculas teriam se originado
desta sopa, onde substâncias se aglutinaram após sofrerem tempestades de
descargas elétricas e erupções de gases vulcânicos e grandes variações de
temperaturas.
Análises de
camadas geológicas dão uma ideia de como seria a atmosfera primitiva da Terra e
seus mares e oceanos e, a partir destas análises e conclusões, experimentos com
bombardeamento de calor e eletricidade indicaram que os aminoácidos poderiam surgir
nas condições descritas[2].
Assim também na
teoria da panspermia local, quando seus defensores simularam o impacto de um
meteorito numa mistura que imita o que deve ter sido o oceano primitivo, surgiram
os aminoácidos.
Este é um
resumo resumídissimo e superficial destas três teorias e quem se interessar
pode encontrar tais informações em qualquer site sério de Biologia ou Ciências
correlacionadas.
A questão aqui
é a premissa: A vida originou-se de um processo químico a partir de elementos
naturais e suas reações e interações entre si e com o meio ou foi criada do
nada por vontade de Deus?
O que podemos
dizer é que, seja o que for que tenha acontecido, é provável (no sentido de
testável) que fenômenos químicos ocorreram na Terra desde a sua formação, e que
estes continuaram transformando-se e ao ambiente de então e que, numa
confluência de fatores, são fenômenos que podem gerar a vida e os organismos
mais complexos sem que seja necessário um princípio inteligente fazendo um
passe de mágica. Tudo o que a Ciência indica sobre a questão da origem da vida
é baseado nesses fenômenos observáveis.
Para melhor
apreciação desse texto, uma breve explanação do que significa teoria, no método
científico: O que é o método científico? Trata-se de um processo de pesquisa
que segue uma determinada sequência de etapas. São elas: OBSERVAÇÃO, PROBLEMATIZAÇÃO, FORMULAÇÃO DE HIPÓTESES, EXPERIMENTAÇÃO E TEORIA. E o que é uma
TEORIA CIENTÍFICA? Diferentemente do sentido de teoria no senso comum, que
indica algo ainda não comprovado, na Ciência é assim: Uma hipótese confirmada
nas experimentações passa a ser denominada de lei científica. A um conjunto de
leis que explicam um determinado fenômeno (ou grupo deles) chamamos de teoria.
As teorias científicas têm validade até que sejam incapazes de explicar
determinados fatos ou fenômenos, ou até que algum descobrimento novo comprovado
se oponha a elas. A partir de então, os cientistas começam a elaborar outra
teoria que possa explicar esses novos descobrimentos.[3]
O que não se
aplica à teoria do Criacionismo. A nenhuma das teorias de Criação de algum
deus, de nenhuma religião. Não há, como querem alguns dos meus queridos comentaristas,
nenhum teste, experimento ou sugestão de prova ou teoria científica que defenda
que a vida tenha surgido na Terra do nada, sem interferência do meio e sem as
substâncias necessárias ao suporte da vida.
Não existe hoje
nenhum ramo da Ciência que defenda a Teoria Criacionista, pelo menos não que eu
tenha encontrado nestes meus anos de pesquisa, e ficaria grata se alguém souber
de algum estudo que possa me indicar, pois não descarto nada, desde que seja
baseado em dados tangíveis e suportados por possibilidades físicas e químicas.
Não posso
comparar pois as teorias científicas sobre a origem da vida na Terra e as
teorias que lidam com o sobrenatural, já que não aceito a premissa de vida
surgindo do nada, apenas por um ato de vontade, sem que os próprios elementos
que compõem a vida sejam sequer utilizados.
Ainda mais
quando esta teoria religiosa vem em um livro recheado de inverdades comprovadas
sobre a constituição física do ser humano, a cura e a causa das doenças e
algumas modificações súbitas no posicionamento e nos movimentos dos astros e
outros fenômenos afins, que causariam catástrofes no planeta, mas que são
descritos como se os elementos químicos e a constituição física do planeta e do
Universo não fossem submetidos a leis e premissas conhecidas hoje; como se a
gravidade não fosse um fato ou a constituição e o movimento das águas ou o
comportamento animal não fossem regidos por princípios mais do que comprovados;
em tudo isso, em todo esse conhecimento do mundo acumulado pela Ciência é que
se baseia toda a parafernália de que desfrutamos hoje, desde os medicamentos à
eletrônica e a informática.
Sei que os
criacionistas querem travestir esta ideia de Criacionismo em Ciência, mas é
claro que não conseguirão, a não ser que sejam capazes de reproduzir a vida a
partir de um ato de vontade, seja invocando seu princípio criador ou
simulando-o em um laboratório, que é o que os cientistas sérios fazem.
Tenho a mais
cristalina certeza de que no dia em que tal teoria for minimamente indicada
como possível a partir de qualquer experimento que recrie no mínimo um
aminoácido por meio da oração, de um ato divino ou coisa que o valha, todos os
cientistas reconhecerão esta possibilidade, embora quedem-se perplexos.
Mas enquanto a
teoria do criacionismo for apenas baseada em fé, continuaremos com nossos
testes e experiências baseadas nos fatos e elementos que nos cercam, aqui na
Terra e no espaço observável e eles continuarão com sua fé.
Qualquer teoria
que se pretenda científica deve partir de algumas possibilidades de explicações
do mundo que nos cerca, que serão testadas e consideradas prováveis ou não,
baseadas nos resultados destas experiências.
Quando uma
teoria científica não se mantém de pé à luz da experiência, ou é suplantada por
outra que explica melhor o funcionamento ou a ocorrência de algum fenômeno, os
cientistas, de forma geral, tendem a abandonar as teorias antigas, reconhecer
os erros de entendimento e compreender que a nova contempla melhor os casos
estudados.
Coisa que as teorias baseadas na fé não são capazes de fazer.
Coisa que as teorias baseadas na fé não são capazes de fazer.
Foi assim com a
teoria dos micróbios, do funcionamento das vacinas, da alquimia, da astrologia,
do heliocentrismo e do geocentrismo. Cada uma destas teorias foi refutada ou
comprovada pelos fatos e experimentos ou constatações, mesmo quando não se
tinha ainda a certeza de que seria assim.
Há medicamentos
que agem contra determinadas doenças sem que os cientistas responsáveis saibam
explicar por que isso acontece, mas acontece. Há substâncias que agem sobre os
seres vivos sem que ninguém saiba explicar como.
Até os sonhos
ainda não são de todo explicados, nem muitos outros fenômenos como o
comportamento da areia ou das nuvens em determinadas situações, as variações
climáticas, a influência dos seres humanos nestas variações e os ciclos das
várias grandes extinções que, comprovadas pelos registros fósseis e geológicos
ocorreram, de fato, mas que não se sabe bem como nem por que.
Isso não
significa que a ciência que lida com tais fenômenos seja incompetente ou menos
digna de crédito, apenas ainda não sabemos tudo sobre o mundo e seu
funcionamento, mas estamos investigando e utilizando os conhecimentos que já
possuímos.
Concluindo, há
sim, cientistas que defendem o criacionismo na vida pessoal e profissional, mas
não representam uma corrente científica nem submetem suas crenças ao rigor
científico das publicações e análise pelos seus pares, ou seja: têm fé. Pode-se
acreditar no que se quiser sobre a origem da vida na Terra, cada um é livre
para escolher sua teoria, mas, por favor, não confundam crença com ciência, são
coisas completamente diferentes.
Agora, se você
duvida da Ciência em si, o assunto se encerra num aperto de mãos cordial e
passemos a falar sobre outras coisas.
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