quarta-feira, 2 de julho de 2014

Respeito às opiniões?

Gustav Coubert - Self Portrait
Em diversas discussões que ocorrem mundo afora o tempo todo, uma maneira bem singela – e prática – de evitar um atrito maior é levar para o intento do respeito, como se este fosse um extintor (ou uma mordaça). Mas o que nunca fica claro é que tipo de respeito esta pessoa está pedindo. O que se vê com frequência são pedidos ressabiados de finda da discussão, como um medo tácito de ver o desmoronamento de linhas até então lógicas pela parte tocada.
O que podemos exprimir aí é que, sendo assim, abre-se uma brecha gigantesca para que quaisquer absurdos em forma de ideias sejam levados à luz duma discussão e, assim que revisto parâmetros não condizentes, intitulado o mesmo como “direito de opinião”. É claro que, aqui, estamos falando basicamente da subjetividade do generalista comportamento humano, mas com as nuances que lhes são características.
No embate sobre os direitos homoafetivos, por exemplo, e tudo que costuma lhe cercar, é muito comum que se chegue a determinado ponto onde haverá a discordância como o foco, desprendendo parcimoniosamente do objetivo humanista da peleja (se esta assim for, claro). Pode-se chegar ao ponto, inclusive, de se defender os direitos daqueles que são contra vários aspectos desta união (civil, sexual, intelectual), alegando que “todos temos direitos a ter uma opinião”. Claro que todos temos, mas temos responsabilidades sobre elas, também. Onde se chega a evidenciar que quer se distinguir ‘opinião’ de algo com a subsequente ação. Não, não o é. Quando se emite uma opinião, esta chegará a um ou vários ouvidos diferentes, que poderão ser total ou parcialmente modificadas ao bel prazer daquele que escuta. Isso cria uma bola de neve gigantesca e de proporções incalculáveis.
Rachel Sherazede deu uma opinião estapafúrdia, mas num meio de comunicação de massa, o que clamou numa quantidade gigantesca de pessoas a apoiarem suas ideias peniafobicas, o que resultou numa média de um linchamento por dia.[1] Assim, como arrefecer a responsabilidade da autora da opinião frente aos acontecimentos registrados,  exponencialmente visíveis? Dar sua opinião é seu direito, mas é seu dever arcar com o que é dito.
Dito isto, deve-se compreender que o respeito à opinião e ao professor da mesma não é algo indiscriminado, incondicional, mas que deve sim interagir com a conexão que a mesma faça com os princípios discutidos. E se for falar de situações referentes aos direitos das pessoas de se posicionar e serem o que querem/são, isso se torna mais importante ainda esta compreensão. Emitir ideias que simplesmente atentam contra este princípio humano básico é não apenas querer obliterar outrem dos seus direitos fundamentais, mas desapropriar a racionalidade que poderia existir na sociedade. Ensinando que alguém não tem determinado direito de ser livre, nada impediria – intelectualmente – de a mesma lógica ser utilizada contra aquele que impediu.
Portanto, assim sendo, uma opinião que vá de encontro ao humanismo mais profundo não possui quaisquer motivos para ser respeitada, nem mesmo seu provedor. Mas claro, isso não significa dar vazão a qualquer tipo de violência. É mais um exercício de entendimento de princípios humanos gerais.

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