domingo, 27 de julho de 2014

O universo e a vaidade humana

Saturne 2 - De Sphaera, manuscrit italien - XV° siècle
Nosso planeta possui mais de 4,5 bilhões de anos. Somos atacados constantemente por forças cósmicas de irradiações provindas de estrelas explodindo em distâncias não menores que 25 milhões de anos-luz. Meteoros nos atingem numa frequência de centenas por anos, a maioria deles desintegrados pela sua fricção com nossa atmosfera. Um “leve” desvio do nosso planeta em função da órbita de Júpiter, aliado a isso a posição ideal deste mundo com relação à distância da estrela mais perto, o Sol, e a distância necessária de outras estrelas e do centro da nossa galáxia.
Agora, pensemos no conceito de se observar todas as circunstâncias que nos remetem a sermos especiais: um deus que nos ama e nos fez à sua imagem e semelhança, quando sabemos que a quantidade de planetas no universo observável é maior que 17 bilhões; que sempre estaremos protegidos na fé e na crença de que o dia seguinte será melhor, quando a nossa própria história (tanto humana quanto astronômica e geológica) nos indica o quão isso é aleatório; quando se pensa positivo o universo conspira ao seu favor, quando o universo sempre se tem mostrado indiferente aos nossos desejos e, independentemente se ações ocorridas favoreceram o surgimento da vida, o universo é lugar inóspito e suas ações podem aniquilar em instantes qualquer tipo de vida, em qualquer lugar.
Somos vaidosos e arrogantes ao conjecturarmos as ocorrências em nossa volta como forma de agradecermos a quaisquer entidades divinas a criação donde estamos e o que somos. E caricaturamos estas entidades das maneiras que enxergamos a natureza, e a nossa própria. Deuses antropomorfizados são resquícios das nossas necessidades de compreendermos a natureza e repassarmos este conhecimento. Mas a sociedade humana – de maneira geral – estagnou-se neste aspecto. Ainda queremos sempre crer que tudo a nossa volta possui um significado intrínseco a nós, e nos atemos a isso como se a própria natureza dependesse do que fazemos e pensamos. Nem mesmo a natureza humana e social possui esta dependência.
Somos atingidos todos os dias com notícias e informações sobre os infortúnios, massacres, desastres naturais, ocorrências sem uma premonição e precondição estritamente à ocorrência. Muitas ações humanas possuem seus cálculos com relação às consequências, mas ainda estas são baseadas na história e psicologia, sem nenhum advento de elevação espiritual.
Tentar utilizar de pseudociências para as conjecturas que agradam seus receios íntimos são os caminhos mais comuns, não apenas por serem de fácil compreensão (nem todos o são), mas por oferecerem o que nossa sociedade há milênios almeja: respostas diretas e envolvidas às duvidas destas pessoas. Estas respostas não são de forma nenhuma trabalhadas no intuito de se advir tudo que tange e o que cerca as ações e reações naturais. Elas são espasmos de criatividade que são aderidas sem qualquer análise mais profunda. Qualquer análise será cíclica, tendendo a aceitar a premissa falsa como verdadeira. A astrologia é um bom exemplo disso.
A concepção da individualidade condiz apenas para a própria pessoa, e muitos se sentem realizados com isto. Mas esta mesma concepção é a tendência de se ignorar parcimoniosamente toda e qualquer evidência que lhe cerque, para um bem individual que tangencia qualquer outra pessoa. O quão desse pensamento individual pode ser prejudicial a si próprio e a outros vai depender do grau de internalização das ideias que esta concepção produziu ao longo dos anos. Já os males relativos às concepções religiosas, que afetam milhões de pessoas ao mesmo tempo, já foram longamente discutidos neste blog e podem ser revistas neste.
Por assim, podemos entender que a natureza e suas ocorrências são importantes e interessantes para nós, mas não que estas de fato possuam uma consequência para nós, o que é diferente. O universo possui sua existência indiferentemente de nossas emoções.


CliqueCiência: Qual é o número estimado de planetas e estrelas no espaço? - UOLNotícias Ciências

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente!