sábado, 14 de julho de 2012

A felicidade ao alcance de todos

 La Casbah - Renoir
Ao contrário do que este post possa demonstrar (e admito a mea culpa deste ser assim) nada há aqui que queira passar de esperança ou de alegria a alguém, ao contrario do que possa parecer.
              Uma pergunta raramente feita é sobre o por quê das pessoas terem, querem e se ver tão necessitadas de felicidade e esperança. Talvez a pergunta pareça um tanto quanto óbvia (não a é), mas fato é que ninguém se pergunta sobre isso, caindo no axioma da necessidade. Mas qual necessidade? Por que precisamos ser felizes. Isso é realmente bom?
           O mais importante para qualquer organismo vivo – leia-se ser organicamente formado – é sua imprescindível manutenção da composição, o que simplesmente mantém seu status, ou seja, sua existência. A situação espacial1 em que uma molécula se encontra é determinante para que esta possa manter-se num ciclo de ‘inércia e energia’, consumindo e recebendo matéria e energia para isso, e mais uma vez com a conformidade do status.
              Mas, toda vez que algumas dessas composições “sofriam” algum tipo de “deformidade”, em que esta prouvesse uma melhoria em sua assimilação das suas necessidades, esta evoluía. Essa evolução se dá, portanto, na facilidade deste organismo manter-se e, por consequência, sobrepor-se a organismos que não adquiriram esta nova faceta.
                Partindo desta ideia evolutiva da busca pela facilidade – a qual nos torna escravos da praticidade e, muitas vezes, da ignorância – sempre procuraremos aquilo que nos dê uma quantidade menor de trabalho a ser realizado, o que faz sentindo se estabelecermos conexão com o avanço tecnológico na grande maioria das áreas diretamente ligadas a sociedade, não se limitando ao desuso das mãos e do esforço físico. Isto é muito mais expressamente ávido nas nossas mentes, no nosso “pensamento social”, onde criamos – por novamente esta necessidade evolutiva – a sensação de felicidade, que provém da satisfação. Comeu bem, está satisfeito, está feliz; fugimos do predador e não mais somos alvos, satisfaço minha condição de ser com vida, estou feliz. Felicidade é uma associação simples e pobre – mas natural – da qual nossa mente simboliza um sentimento que teremos de ter com mais frequência se quisermos nos manter vivos.
             Como forma de expressar esta associação, mas com um engajamento menos específico e mais abstrato, possivelmente as artes expressem a pobreza desta necessidade biológica mais claramente. Esta nos mostra que, de maneira geral, nossa felicidade não nos deixa sermos capazes de criarmos ou mesmo exprimirmos com lucidez o que somos, o que de fato fazemos e pensamos. Estamos embriagados, drogados e dopados pelas dopaminas, serotonina, noradrenalinas2 e demais, e o efeito deste é notável em atitudes específicas do indivíduo que, ampliadas aos costumes que possam reger determinada sociedade, possui um raciocínio tácito de se compreender.
           Já possivelmente a tristeza, desesperança e ademais – em detrimento à sua ‘apenas’ alusão antagônica da facilidade/felicidade, são muito mais claras nesse aspecto, nos tornando mais abertos a observações que, em momentos alegres, nos passariam despercebidos. É reparável as diferenças de musicas, pinturas, esculturas, literaturas e filmes que procuram expressar ambos os sentimentos, de maneira vívida e lúcida, e se verá o quão profundo uma “depressão” consegue afundar-se e aprofundar-se na psiqué humana, enquanto que a felicidade como tema de expressão, há a ilusão de uma sedimentação espontânea, nos tirando do foco principal e nos entorpecendo, para assim fugirmos daquilo que “é ruim para nossa sobrevivência”.

               Cada sentimento possui sua virtude, e por varias razões são importantes para nos mantermos vivos e sãos. Nas artes, apesar dos exemplos aqui citados serem extremamente generalistas e passivos de uma quantidade grande de “ah, mas teve aquele filme que...”, não deixa de expressar um nítido revés da “boa sensação”: seja infeliz, e entenderá muito bem a si mesmo e aos outros; seja feliz, e isso não importará mais.


4 comentários:

  1. É meio complexo mesmo definir a felicidade, o seu ponto de vista é bem interessante, a felicidade como uma forma de acomodação. Não compartilho totalmente dessa sua opinião, mas em partes sim, pois não dá pra fugir das explicações técnicas, mas as pessoas vêem a felicidade de forma diferente, varia com o seu objetivo, sendo alguns permanentes e impossíveis de serem alcançadas.
    At
    Bolívar

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    1. O fato das pessoas "verem" de maneira diferente não retira a responsabilidade do ato ocorrido.

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  2. Realmente bem pensado em como as pessoas associam a felicidade à facilidade... Quanto mais facilmente eu atinjo meus objetivos e/ou vontades mais "feliz" sou...

    Viviane

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  3. Epicuro define felicidade lindamente. Pesquisem. Eu sou ateu, mas isso não quer dizer q n possa tirar ensinamentos úteis de religiosos, tipo o Budismo tem umas noções e sacadas bem bacanas de que o desejo é a origem do sofrimento, sofre-se por não ter, por perder e por medo de perder o q se deseja. Enfim, ser feliz é fácil. Só ter boa saúde e a mente calma. O resto é luxo.

    Victor - ultimoguerreiro82@gmail.com

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