domingo, 25 de maio de 2014

Lavagem cerebral, moralidade e condicionamento psicológico

Quem decide os valores morais que serão incutidos nas crianças desde o seu nascimento?
A resposta mais óbvia é a família.
Porém, a família não é uma entidade isolada, ela é composta por pessoas que vivem em uma sociedade e esta sociedade possui seus valores que advoga das mais diferentes formas.
Ninguém precisou dizer a você para não devorar seu amiguinho, como disse José Ângelo Gaiarsa.
Não há exemplos na sua infância de pessoas devorando pessoas sem que isto não seja mostrado como um exemplo de selvageria primitiva, sátira, ou crime.
O canibalismo não é aceito na nossa sociedade e isto está claro na cultura em que estamos inseridos, desde desenhos animados tirando sarro com tribos antropófagas a filmes de terror de zumbis.
Está mais do que claro.
Além do mais, canibalismo, mesmo que consentido, é crime.
Quanto à homossexualidade, também não foi preciso que alguém lhe dissesse que você não deveria se interessar sexualmente por alguém do seu gênero.
Muito antes da puberdade, você já sabia que se demonstrasse seus interesses românticos em alguém do mesmo gênero isso não seria visto com bons olhos.
Não houve necessariamente alguém para lhe dizer, na pré-escola, que homens namoram mulheres e não mulheres namoram mulheres ou homens namoram homens.
De novo, temos a defesa desta ideia, de modo geral, pela família, que deixou claro que uma família de verdade é composta por papai e mamãe.
A divulgação desta ideia também vem através da mídia, sem que seja realmente dita em voz alta: Todos os personagens masculinos querem namorar a mocinha. Toda mocinha quer namorar o herói.
As piadinhas envolvendo gays, a separação das tarefas domésticas e das brincadeiras em "coisa de menina" e "coisa de menino", as competições escolares de menino contra menina, as orientações familiares sobre com quem você deveria brincar...
Tudo direcionando sua mente para entender que seu destino é relacionar-se sexualmente com pessoas do gênero oposto.
Da mesma forma, quando alguém é incutido desde cedo com determinados valores religiosos a tendência é aceitar tais valores como naturais, verdadeiros e os únicos corretos, por que "mamãe e papai e a minha religião disseram que era assim."
Alguém pode questionar o porquê de eu ter colocado o canibalismo, a homossexualidade e a religião num mesmo texto sobre lavagem cerebral e condicionamento psicológico.
A resposta é que estou tentando provar que as ideias que você traz, de forma automática e sem pensar, fazem parte de um conjunto de valores consuetudinários de determinados grupos sociais e lhe são repassados sem que você perceba, pela sociedade em que você vive.
Acho isto tão óbvio que quase me envergonho de considerar necessário escrever sobre.
Mas considero sim, pois a quantidade de pessoas agindo de acordo com valores preconceituosos, sem perceber e sem admitir sequer questioná-los é absurdamente enorme, e as consequências destas ações baseadas em conceitos errôneos são desastrosas para a vida em sociedade.
Não, não estou defendendo o canibalismo, embora no meu livro preferido (Um Estranho numa Terra Estranha) ele faça todo o sentido e seja até singelo e poético.
Estou defendendo que as opiniões que você tem sobre as outras pessoas podem e devem ser revistas sempre.
As minhas também.
Ideias precisam ser constantemente postas à prova.
As muitas formas de lavagem cerebral e condicionamento psicológico são reais e estão a pleno vapor para moldar seu pensamento, desde que você começa a usá-lo.
Quando alguém antes igualitário, justo e livre de preconceitos como uma criança passa a enxergar o próximo a partir de ideias preconceituosas por força da formação familiar, religiosa e midiática, dá-se o que eu considero uma lavagem cerebral.
Para uma menininha suficientemente pequena, digamos, antes dos cinco anos de idade, não há diferenças negativas entre ela e o amiguinho que gosta de brincar de boneca e de usar a sainha da irmã. Nem entre ela e aquela outra criança de cor de pele diferente da sua, de olhinhos puxados e língua de fora ou numa cadeira de rodas.
Para as crianças, todos os seres humanos são verdadeiramente iguais.
As diferenças supostamente negativas ou positivas serão enfiadas na cabecinha delas pela família e pela sociedade, e o resultado é alguém que considera outras pessoas inferiores em alguma instância, a partir de apenas um ou dois aspectos.
O condicionamento psicológico a que estamos sujeitos desde os nossos primeiros anos de idade tem força e, para ser quebrado, necessita de um despertar.
Um abrir de olhos.
A necessidade de se saber dono de suas próprias opiniões e não um reprodutor de frases feitas, conceitos superficiais e comportamentos nocivos a nós mesmos e aos outros seres humanos com quem convivemos.
Quando questionamos e investigamos todas as verdades familiares, políticas, religiosas e morais em que acreditamos, passamos a investigar e a formar nossas próprias opiniões, baseadas na informação.
As nossas ideias anteriores podem ruir durante o processo.
Mas também podem ser reforçadas.
Pensar sobre o que cremos e quem somos não é uma ameaça, é uma forma de sermos donos de nosso destino e de nossas ações.
Da próxima vez em que você se deparar com um homossexual, tente enxergá-lo além deste aspecto.
Não se restrinja à sexualidade, afinal, esta é apenas uma das facetas daquele ser humano.
Assim também da próxima vez em que você conhecer um ateu.
Não se prenda à questão da crença.
Nenhum ser humano é unicamente uma de suas características, ao contrário, somos todos compostos de múltiplos aspectos, valores, escrúpulos, posicionamentos.
Não deixe que o condicionamento psicológico e a lavagem cerebral determinem quem você é e como se relaciona com o mundo.

Jacqueline K

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