Pinturas rupestres no Parque Nacional da Serra da Capivara - Marizilda Cruppe |
A construção do conhecimento humano sempre se deu de
forma a contemplar a necessidade prática de se conhecer o mundo e a natureza
que o rodeava. Estas ações permearam o conhecimento de tal forma que a
praticidade do que se conhecia começou a precisar da necessidade de
aprofundamento em sua essência, na essência destes saberes e a tratar, portanto, do conhecimento mais abrangente possível, com pensamentos que se
remetessem a conhecer algo que não necessariamente fosse possível se praticar,
pelo menos não de forma direta.
Torna-se improdutivo e displicente classificar os
meios de se adquirir conhecimento em etapas, uma vez que eles se deram nas mais
variadas épocas e formas, e os mesmo são utilizados até hoje para predizer o
mesmo mundo, com suas visões distintas e verdades condizentes dentro de seus
próprios panoramas. Assim, temos que as formas de conhecimento para o mundo
são: empírica, teológica, filosófica e científica.
Estas formas obedecem a uma cronologia histórica
dentro da capacidade humana de gerir o conhecimento, tendo o empirismo como a
primeira forma de conhecimento, com suas bases nas ações diárias e galgadas nas
experiências tanto individuais quanto repassadas; a teológica como primeira
explicação além da prática para o conhecimento, com o fomento místico e
subjulgamentos através da própria fé (conceito este melhor compreendido mais
tarde alguns séculos); a filosófica para a desestigamatização da natureza e do
próprio homem e com fontes no pensamento bastante aprofundado nas bases
empíricas e teológicas e a científica, com suas ações empíricas e de fundamentos
metodológicos. Mas estas formas se perdem nos meandros do tempo e dos
ensinamentos, sendo propagadas e praticadas até hoje onde, inclusive, algumas
delas em dado momento e fatores históricos, podem se misturar ou se
completarem, dependendo de quem os aborda e do que se aborda.
Tendo isto em mente, começaremos a verificar, nesta
cronologia, estes conhecimentos e saberes.
Conhecimento Empírico
O empirismo em sua forma mais singela remonta aos
tempos mais antigos do desenvolvimento do pensamento humano. Ele tem por base a
experiência e a vivência bem como sua passagem daqueles que já a experimentaram
até aqueles que ainda não o fizeram, na forma mais tribal de informação, para
tomar o conhecimento, e este por sua vez faz com que o dia a dia prático seja vivenciado
nestes parâmetros.
Como características, o conhecimento empírico é
superficial, sensitivo, subjetivo, assistemático e acrítico, pois não trabalha
nas formas mais pormenorizadas deste mesmo conhecer. Não há uma análise mais
aprofundada de determinado objeto e ação, o que o torna simples na forma de
pensar e de concluir.
Enraizado no processo de vivência da experiência,
este meio de conhecimento tem passado ao longo dos milênios de forma renovada
através de estudos analíticos voltados a este, levando a concepções às vezes
muito diferentes em seu corpo, mas mantendo a essência experimentativa. John
Herschel argumentava que a interpretação científica deveria sempre começar com
a compreensão das leis da natureza, onde sua observação era o início de todo o
aspecto pensativo para a compreensão e conclusão do estudo objetivado
(NASCIMENTO JÚNIOR, 1998).
Sendo assim, toda a realização de conhecimento
parte, em seus estudos, da experiência empírica de se observar, recordar
(associar), experimentar e concluir. Estas etapas fazem o modelo empírico de
conhecimento que condiz ao nosso áureo início na sapiência e descobertas.
Conhecimento Teológico
Resguardado por nuances mitológicas, as primeiras
concepções e respostas a cerca das dúvidas humanas levavam sempre à crença no
sobrenatural. Era de se compreender uma vez que a cognição e a abrangência do
conhecimento eram limitadas, imaginar o sobrenatural tecendo o fio das
ocorrências tornava-se o caminho para responder algumas aflições. As
associações da observação de fenômenos naturais eram intimamente ligadas a
respostas que induziam a deuses, seres inobserváveis, e tendências humanizadas
destes.
A dificuldade – já citada no parágrafo anterior – de
observação e compreensão dos fenômenos e a natureza ainda desconhecida (animais
não identificados, por exemplo) galgaram o início deste conhecimento.
Este se desenvolveu na forma de explicar a si
próprio, dentro de aspectos naturais, e foi se colocando na condição de
conhecimento e explicação do mundo, argumentando sempre em favor da resposta
final, principalmente o crescimento da apologética cristã no ocidente através
de nomes como Santo Agostinho e Tomás de Aquino.
O desenvolvimento da teologia como forma
classificada de conhecimento está hoje proposta na compreensão da existência
não apenas do sobrenatural e sua metafísica impregnada, mas também na concepção
divina e argumentações que levem a esta confirmação.
A base do conhecimento teológico é a fé que, por
extensão, analisa empiricamente o fenômeno a fim de explicá-lo dentro das
premissas que levem a não indagar mais que o limite do sobrenatural, alcançado
na forma de ‘revelação divina’. Mas há o preço da desconfiança da
funcionalidade disto. Neste aspecto, tem-se que a desconfiança se dá de forma a
associar ao próprio homem (homem-medida), pois que é elevada ao próprio homem a
visão de Deus e, sendo assim, a medida das coisas parte do homem. Segundo Ivan
Domingues (1991, pág. 354)
Esta desconfiança em relação ao homem-medida
desaparece em Kant. O autor da revolução copernicana considera a tentativa de
fundar o conhecimento em Deus, ainda que piedosa, como desprovida de sentido e
um tanto ingênua, e prefere fundá-lo franca e diretamente, sem nenhum rodeio,
no sujeito. Com isso, ele livra o homem da tutela do transcendente (Deus veraz)
e dilui a suspeita ou desconfiança que recaía sobre ele. Mas a qual preço? Ao
preço da morte de Deus na Crítica da
Razão Pura e de sua ressurreição na Crítica
da Razão Prática – dizia Heine. De um lado, na sua crítica do saber o
problema do conhecimento deixa de ser um problema da sua fundação absoluta,
como na metafísica [...] e passa a ser o de sua fundação transcendental.
O homem, portanto, passa a compreender o
conhecimento não apenas vindo de Deus, mas construído por si e de iluminação
divina.
Conhecimento Filosófico
Como forma de raciocínio metódico e crítico, o
conhecimento filosófico tem por características a sistemática, a elucidação, a
crítica e a especulação. Na forma de pensamentos reflexivos e envolvidos não na
restrição da prática empírica, mas na expansão deste com o envolvimento lógico,
este conhecimento tange abranger a maior gama de conceitos dialéticos,
retóricos e argumentativos possíveis (a maior gama possível), o que pode trazer
a uma concepção mais geral de mundo sem ainda a pragmatização da concretude de
meios mais práticos de conhecimentos.
Esta abstração foi (e ainda é) importante para que
sua disposição de não delimitar-se possa trazer às experiências necessárias de
conhecimentos mais variados em suas especificidades.
O saber filosófico – sobretudo o ocidental – veio a
solidificar-se com o grande crescimento comercial e político no mundo grego
antigo. Esta expansão veio acompanhada da necessidade de que a política para a
manutenção daqueles grupos sociais pudessem se manter pelo debate aberto nas
Assembleias. Com os sofistas, começou então a arte de se trabalhar a
argumentação lógica para o convencimento unânime. Esta prática depois seria
condenada por filósofos de vertentes diferentes, como Sócrates e seu discípulo
Platão, em função da mesma não condizer com a busca pela verdade, mas com a
vitória nas discussões. Através destes dois famosos filósofos, a filosofia
ganhou muito de sua forma atual de pensar e refletir o mundo natural e o
comportamento social.
Conhecimento Científico
Este conhecimento é o mais praticado na forma de não
apenas conhecer o mundo e suas nuances, mas também de se sistematizar as leis
regentes no universo e no comportamento. Possui como características a
contingência, a sistematização, a verificação e a falseabilidade. Nas ciências
seus componentes sistemáticos organizacionais contemplam a mais próxima
resposta às leis naturais, onde estas possuem seus paradigmas como foco para a
falseabilidade de hipóteses e teorias.
Seu aspecto cético e pragmático desdenha qualquer
tipo de alegação formidável, que vulgarize as premissas lógicas ao ponto que as
mesmas entrem num redemoinho argumentativo, não sendo possível negá-las. A
ciência busca o tempo todo contradizer-se para que, enquanto isto não sendo possível,
sua teoria é aceita e aplicada.
Sua formação se deu relativamente tarde, desde que o
ser humano se viu capaz de raciocinar, tratadas desde basicamente os séculos
XVI e XVII, com seu desvencilhamento de práticas filosóficas que fossem desde o
misticismo até ao sofisma, que hoje podemos chamar de pseudociência.
O mundo vivaz praticado pelo homem, em suas
tecnologias médicas, físicas, químicas, sociais e ecológicas atendem aos
parâmetros científicos, através do seguinte esquema:
- Observação empírica;
- Desenvolvimento de hipóteses;
- Teste de hipóteses
(experimentação);
- Utilização de princípios
matemáticos;
- Interpretação de análise de dados,
fatos ou fenômenos naturais (experiência);
- Com a confirmação, formulação da
Teoria; caso não, reinício do processo.
Assim, temos que o seu desenvolvimento se dá por
mais etapas que os conhecimentos anteriores e mais elaborados, a fim de se
chegar o mais próximo possível de uma resposta que atenda às perguntas feitas.
Há que se observar que todos os conhecimentos possuem
uma premissa clara: o empirismo. Não é incomum que mais de uma forma de
conhecimento seja colocada à mão para uma clara compreensão da natureza e,
dentro do caminho percorrido, parte dela seja revirada ou mesmo
inter-relacionada a outro conhecimento. A transição cronológica entre um saber
e outro foi, assim, onde separar-se por completo era um trabalho dificultado
pelo sistema de crenças e apegos sociais e tradicionais vigentes. É leviano
afirmar que com toda a certeza todos estes saberes possuem uma clara separação
que os distancie mais longevamente possível, assim como a alegação que suas
composições intermediárias sejam equivalentes. Alguns devem possuir um pouco do
outro em maior frequência e atenuantes que o inverso, bem como algum se
destacará na forma de ser o mais distante do restante.
Estas distâncias devem, assim, serem analisadas para
se verificar o quão próximo estes saberes podem e devem ficar realmente com
algum tipo de interligação, não correndo portanto o risco de se levar ao erro
de associações divergentes e que acabem por anular a resposta buscada.
A humanidade evolui em seus saberes na forma de
querer e precisar compreender o mundo, e isto se deu em etapas individuais e
sociais diferentes. É natural que se veja a nítida clarificação das ideias
conforme os milênios se passaram, e nem por isso cada um destes saberes
deixaram de produzir sua correlação importante para esta evolução, mesmo com
alguns claros retrocessos.
DOMINGUES,
Ivan. O grau zero do conhecimento: o
problema da fundamentação das ciências humanas 2ª edição. São Paulo.
Edições Loyola. 1991.
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MARCONDES,
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JÚNIOR, Antônio Fernandes. Fragmentos da
construção histórica do pensamento neo-empirista Disponível em: <http://www.scielo.br
> Acesso em 28 de setembro de 2014.
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