sábado, 27 de dezembro de 2014

Tipos de conhecimento

Pinturas rupestres no Parque Nacional da Serra da Capivara - Marizilda Cruppe
A construção do conhecimento humano sempre se deu de forma a contemplar a necessidade prática de se conhecer o mundo e a natureza que o rodeava. Estas ações permearam o conhecimento de tal forma que a praticidade do que se conhecia começou a precisar da necessidade de aprofundamento em sua essência, na essência destes saberes e a tratar, portanto, do conhecimento mais abrangente possível, com pensamentos que se remetessem a conhecer algo que não necessariamente fosse possível se praticar, pelo menos não de forma direta.
Torna-se improdutivo e displicente classificar os meios de se adquirir conhecimento em etapas, uma vez que eles se deram nas mais variadas épocas e formas, e os mesmo são utilizados até hoje para predizer o mesmo mundo, com suas visões distintas e verdades condizentes dentro de seus próprios panoramas. Assim, temos que as formas de conhecimento para o mundo são: empírica, teológica, filosófica e científica.
Estas formas obedecem a uma cronologia histórica dentro da capacidade humana de gerir o conhecimento, tendo o empirismo como a primeira forma de conhecimento, com suas bases nas ações diárias e galgadas nas experiências tanto individuais quanto repassadas; a teológica como primeira explicação além da prática para o conhecimento, com o fomento místico e subjulgamentos através da própria fé (conceito este melhor compreendido mais tarde alguns séculos); a filosófica para a desestigamatização da natureza e do próprio homem e com fontes no pensamento bastante aprofundado nas bases empíricas e teológicas e a científica, com suas ações empíricas e de fundamentos metodológicos. Mas estas formas se perdem nos meandros do tempo e dos ensinamentos, sendo propagadas e praticadas até hoje onde, inclusive, algumas delas em dado momento e fatores históricos, podem se misturar ou se completarem, dependendo de quem os aborda e do que se aborda.
Tendo isto em mente, começaremos a verificar, nesta cronologia, estes conhecimentos e saberes.

Conhecimento Empírico
O empirismo em sua forma mais singela remonta aos tempos mais antigos do desenvolvimento do pensamento humano. Ele tem por base a experiência e a vivência bem como sua passagem daqueles que já a experimentaram até aqueles que ainda não o fizeram, na forma mais tribal de informação, para tomar o conhecimento, e este por sua vez faz com que o dia a dia prático seja vivenciado nestes parâmetros.
Como características, o conhecimento empírico é superficial, sensitivo, subjetivo, assistemático e acrítico, pois não trabalha nas formas mais pormenorizadas deste mesmo conhecer. Não há uma análise mais aprofundada de determinado objeto e ação, o que o torna simples na forma de pensar e de concluir.
Enraizado no processo de vivência da experiência, este meio de conhecimento tem passado ao longo dos milênios de forma renovada através de estudos analíticos voltados a este, levando a concepções às vezes muito diferentes em seu corpo, mas mantendo a essência experimentativa. John Herschel argumentava que a interpretação científica deveria sempre começar com a compreensão das leis da natureza, onde sua observação era o início de todo o aspecto pensativo para a compreensão e conclusão do estudo objetivado (NASCIMENTO JÚNIOR, 1998).
Sendo assim, toda a realização de conhecimento parte, em seus estudos, da experiência empírica de se observar, recordar (associar), experimentar e concluir. Estas etapas fazem o modelo empírico de conhecimento que condiz ao nosso áureo início na sapiência e descobertas.

Conhecimento Teológico
Resguardado por nuances mitológicas, as primeiras concepções e respostas a cerca das dúvidas humanas levavam sempre à crença no sobrenatural. Era de se compreender uma vez que a cognição e a abrangência do conhecimento eram limitadas, imaginar o sobrenatural tecendo o fio das ocorrências tornava-se o caminho para responder algumas aflições. As associações da observação de fenômenos naturais eram intimamente ligadas a respostas que induziam a deuses, seres inobserváveis, e tendências humanizadas destes.
A dificuldade – já citada no parágrafo anterior – de observação e compreensão dos fenômenos e a natureza ainda desconhecida (animais não identificados, por exemplo) galgaram o início deste conhecimento.
Este se desenvolveu na forma de explicar a si próprio, dentro de aspectos naturais, e foi se colocando na condição de conhecimento e explicação do mundo, argumentando sempre em favor da resposta final, principalmente o crescimento da apologética cristã no ocidente através de nomes como Santo Agostinho e Tomás de Aquino.
O desenvolvimento da teologia como forma classificada de conhecimento está hoje proposta na compreensão da existência não apenas do sobrenatural e sua metafísica impregnada, mas também na concepção divina e argumentações que levem a esta confirmação.
A base do conhecimento teológico é a fé que, por extensão, analisa empiricamente o fenômeno a fim de explicá-lo dentro das premissas que levem a não indagar mais que o limite do sobrenatural, alcançado na forma de ‘revelação divina’. Mas há o preço da desconfiança da funcionalidade disto. Neste aspecto, tem-se que a desconfiança se dá de forma a associar ao próprio homem (homem-medida), pois que é elevada ao próprio homem a visão de Deus e, sendo assim, a medida das coisas parte do homem. Segundo Ivan Domingues (1991, pág. 354)
Esta desconfiança em relação ao homem-medida desaparece em Kant. O autor da revolução copernicana considera a tentativa de fundar o conhecimento em Deus, ainda que piedosa, como desprovida de sentido e um tanto ingênua, e prefere fundá-lo franca e diretamente, sem nenhum rodeio, no sujeito. Com isso, ele livra o homem da tutela do transcendente (Deus veraz) e dilui a suspeita ou desconfiança que recaía sobre ele. Mas a qual preço? Ao preço da morte de Deus na Crítica da Razão Pura e de sua ressurreição na Crítica da Razão Prática – dizia Heine. De um lado, na sua crítica do saber o problema do conhecimento deixa de ser um problema da sua fundação absoluta, como na metafísica [...] e passa a ser o de sua fundação transcendental.
O homem, portanto, passa a compreender o conhecimento não apenas vindo de Deus, mas construído por si e de iluminação divina.

Conhecimento Filosófico
Como forma de raciocínio metódico e crítico, o conhecimento filosófico tem por características a sistemática, a elucidação, a crítica e a especulação. Na forma de pensamentos reflexivos e envolvidos não na restrição da prática empírica, mas na expansão deste com o envolvimento lógico, este conhecimento tange abranger a maior gama de conceitos dialéticos, retóricos e argumentativos possíveis (a maior gama possível), o que pode trazer a uma concepção mais geral de mundo sem ainda a pragmatização da concretude de meios mais práticos de conhecimentos.
Esta abstração foi (e ainda é) importante para que sua disposição de não delimitar-se possa trazer às experiências necessárias de conhecimentos mais variados em suas especificidades.
O saber filosófico – sobretudo o ocidental – veio a solidificar-se com o grande crescimento comercial e político no mundo grego antigo. Esta expansão veio acompanhada da necessidade de que a política para a manutenção daqueles grupos sociais pudessem se manter pelo debate aberto nas Assembleias. Com os sofistas, começou então a arte de se trabalhar a argumentação lógica para o convencimento unânime. Esta prática depois seria condenada por filósofos de vertentes diferentes, como Sócrates e seu discípulo Platão, em função da mesma não condizer com a busca pela verdade, mas com a vitória nas discussões. Através destes dois famosos filósofos, a filosofia ganhou muito de sua forma atual de pensar e refletir o mundo natural e o comportamento social.

Conhecimento Científico
Este conhecimento é o mais praticado na forma de não apenas conhecer o mundo e suas nuances, mas também de se sistematizar as leis regentes no universo e no comportamento. Possui como características a contingência, a sistematização, a verificação e a falseabilidade. Nas ciências seus componentes sistemáticos organizacionais contemplam a mais próxima resposta às leis naturais, onde estas possuem seus paradigmas como foco para a falseabilidade de hipóteses e teorias.
Seu aspecto cético e pragmático desdenha qualquer tipo de alegação formidável, que vulgarize as premissas lógicas ao ponto que as mesmas entrem num redemoinho argumentativo, não sendo possível negá-las. A ciência busca o tempo todo contradizer-se para que, enquanto isto não sendo possível, sua teoria é aceita e aplicada.
Sua formação se deu relativamente tarde, desde que o ser humano se viu capaz de raciocinar, tratadas desde basicamente os séculos XVI e XVII, com seu desvencilhamento de práticas filosóficas que fossem desde o misticismo até ao sofisma, que hoje podemos chamar de pseudociência.
O mundo vivaz praticado pelo homem, em suas tecnologias médicas, físicas, químicas, sociais e ecológicas atendem aos parâmetros científicos, através do seguinte esquema:
  • Observação empírica;
  • Desenvolvimento de hipóteses;
  • Teste de hipóteses (experimentação);
  • Utilização de princípios matemáticos;
  • Interpretação de análise de dados, fatos ou fenômenos naturais (experiência);
  • Com a confirmação, formulação da Teoria; caso não, reinício do processo.
Assim, temos que o seu desenvolvimento se dá por mais etapas que os conhecimentos anteriores e mais elaborados, a fim de se chegar o mais próximo possível de uma resposta que atenda às perguntas feitas.
Há que se observar que todos os conhecimentos possuem uma premissa clara: o empirismo. Não é incomum que mais de uma forma de conhecimento seja colocada à mão para uma clara compreensão da natureza e, dentro do caminho percorrido, parte dela seja revirada ou mesmo inter-relacionada a outro conhecimento. A transição cronológica entre um saber e outro foi, assim, onde separar-se por completo era um trabalho dificultado pelo sistema de crenças e apegos sociais e tradicionais vigentes. É leviano afirmar que com toda a certeza todos estes saberes possuem uma clara separação que os distancie mais longevamente possível, assim como a alegação que suas composições intermediárias sejam equivalentes. Alguns devem possuir um pouco do outro em maior frequência e atenuantes que o inverso, bem como algum se destacará na forma de ser o mais distante do restante.
Estas distâncias devem, assim, serem analisadas para se verificar o quão próximo estes saberes podem e devem ficar realmente com algum tipo de interligação, não correndo portanto o risco de se levar ao erro de associações divergentes e que acabem por anular a resposta buscada.


A humanidade evolui em seus saberes na forma de querer e precisar compreender o mundo, e isto se deu em etapas individuais e sociais diferentes. É natural que se veja a nítida clarificação das ideias conforme os milênios se passaram, e nem por isso cada um destes saberes deixaram de produzir sua correlação importante para esta evolução, mesmo com alguns claros retrocessos.

DOMINGUES, Ivan. O grau zero do conhecimento: o problema da fundamentação das ciências humanas 2ª edição. São Paulo. Edições Loyola. 1991.

FRANCELIN, Marivalde Moacir. Ciência, senso comum e revoluções científicas: ressonâncias e paradoxos Disponível em: <http://www.scielo.br > Acesso em 28 de setembro de 2014.

LAKATO, Imre. Ciência e pseudociência Disponível em: <http://www.ufpe.br/biofisica > Acesso em 28 de setembro de 2014.

MARCONDES, Danilo. Sócrates e os Sofistas In: Iniciação à história da filosofia. 1ª edição. Rio de Janeiro. Zahar. 2002.

NASCIMENTO JÚNIOR, Antônio Fernandes. Fragmentos da construção histórica do pensamento neo-empirista Disponível em: <http://www.scielo.br > Acesso em 28 de setembro de 2014.

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